poder pintar o céu

Archive for the ‘Histórias do meio local’ Category

Um dia lembrei-me de ir ao sótão. Ao procurar algo interessante para me entreter, descobri uma caixa pequenina. Cheia de curiosidade decidi abri-la. Lá dentro estava uma fada pequenina que disse:

Olá! Esperei que a tua mãe te desse esta caixa, mas foste tu que a descobriste. Estou pronta. Pede.

Peço o quê?

Pede o teu maior sonho, o teu desejo.

Ah! O meu desejo é tornar-me uma pessoa importante.

Perlim…pim….pim…perlim…pim…pás… Um pé à frente outro atrás, ao passado voltarás!

Uma bonita senhora, de cabelos louros como o ouro, apareceu. O sótão tinha-se transformado. Por todo o lado havia montes de pequenos tecidos bordados mas, continuava a bordar desesperadamente.

Passado algum tempo, pousou o trabalho e foi à janela. Ficou a olhar o monte que se encontrava em frente, com um ar pensativo, como fazia quase todos os dias. Ficou ali até anoitecer. As estrelas começaram a brilhar e a bela senhora olhou-as, como se procurasse alguma coisa ou disso dependesse a sua vida.

Onde estaria eu? No passado, com certeza! Quem seria? Vamos descobrir!

Há muitos, muitos anos, havia no lugar de Vasconcelos, um castelo com uma torre que hoje já não existe. Nele vivia um fidalgo com uma filha lindíssima para quem já tinha escolhido como noivo um vizinho muito rico. Como era hábito nessa época, organizou um torneio para o qual convidou os mais belos cavaleiros. A bela Almerinda deveria entregar o prémio ao vencedor.

Os concorrentes chegaram na véspera do torneio e eram hóspedes do senhor de Vasconcelos. Ouvindo as gargalhadas, o barulho das ferraduras dos cavalos, os cantares dos trovadores, Almerinda sonhava com o seu principe encantado, um jovem meigo, vistoso e tão valente que fosse ele a receber o pémio das suas mãos. Mas tinha ordens para não aparecer antes da festa. Cheia de curiosidade, pediu à criada Raquilde que entrasse na torre e lhe trouxesse novidades.

Esperou ansiosamente e, quase ao escurecer, a velha companheira de brinquedos que se tinha disfarçado de rapaz, apareceu, muito nervosa.

Raquilde, diz-me tudo o que sabes…o que viste…

Senhora vim a correr. Ia sendo descoberta pelos guardas. Vi muitos homens, todos fortes, tagarelas e distintos. Quase todos jovens.

De onde eram?

Disse-me um moço de estrebaria que vieram dois espanhois, dois franceses, um inglês e seis portugueses. Bem… Não gostei dos franceses! Um era velho e o outro grosseiro. O inglês pareceu- me triste e desgostoso com tudo. Dos portugueses…só três se aproveitavam. Quanto aos espanhóis…Um deles pareceu-me um velho cocheiro. E o outro…descobriu que eu era mulher! Esperou-me no corredor, fez-me espalhar os cabelos pelos ombros e perguntou-me se era a bela Almerinda. Claro que neguei logo…e tive de lhe contar a verdade. Sei que não deveria ter descoberto o seu segredo, mas fui fraca diante daquele rosto tão belo…dos olhos tão meigos, tão límpidos!

Os jogos começaram. Almerinda estava fascinante, no seu vestido bordado a ouro e pérolas. Um a um, os cavaleiros foram-lhe sendo apresentados e facilmente descobriu o espanhol.

À noite, houve festa nos salões e entre os dois nasceu um amor impetuoso desde o primeiro instante em que se olharam. Escondidos, encontravam-se num monte solitário e, juntinhos, olhavam as estrelas, escolhendo as mais brilhantes para símbolizar a intensidade do seu amor.

Quando o senhor de Vasconcelos descobriu, ordenou à filha que mandasse o seu amado embora pois casaria daí a dois dias com o noivo que lhe tinha escolhido.

Como de costume, o jovem esperou a sua amada que chegou, bela como sempre, mas pálida.

Almerinda, que tendes?

Meu pai foi informado do nosso amor. Vim dizer-vos que abandoneis estas terras para sempre. Mas levai-me convosco…

Os jovens apaixonados fugiram para espanha. Tudo lhes parecia belo, com um novo significado. Olhavam o céu azul e viam uma vida cheia de promessas. Sorriam felizes, gozando a sua liberdade.

Subitamente calaram-se. Ao longe vinha um cortejo de cavaleiros. O fidalgo tinha preparado rápido uma perseguição. Num acesso de raiva, os dois homens bateram-se em duelo e Almerinda foi obrigada a regressar ficando encerrada na torre e vigiada dia e noite. Ali viveu alguns anos, a prisioneira enamorada, bordando pequenas frases que lhe lembravam o seu amor e observando as estrelas que luziam para ela todas as noites, trazendo-lhe novas de seu cavaleiro. Morreu por amor, aquela que foi uma das mais belas castelãs do norte de Portugal.

Já ninguém se lembra da bela jovem. Não se fala do seu nome nem da sua história. Mas as ruinas do velho palácio e torre de Vasconcelos são um testemunho da sua existência. As jovens casadoiras continuaram a fazer lenços para os seus amores. E Amares mantem ainda hoje a sua velha tradição dos lenços de namorados bem viva!

O monte de Santa Luzia poderá até ser uma homenagem ao monte em que as estrelas deste amor continuam a luzir!

E eu… Bem, nunca saberei ao certo se terei alguma relação com a linda fidalga! Se fui ou ainda serei uma pessoa importante.

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A minha freguesia fica situada num vale muito verdejante, também conhecido por Vale do Cávado.

O historiador Domingos M. da Silva, num dos seus livros, conta que há muitos, muitos anos, esta localidade era muito acidentada e encharcada por se encontrar entre os rios Cávado e Homem. Daí ter surgido o nome desta bela freguesia.

Existiu também, nesta localidade, um solar duma família nobre, desde o reinado de D. Afonso II e que pertenceu a Gomes Gonçalves de Lago.

Os Lagos eram uma família de origem portuguesa que viveu na região de entre o Cávado e o Homem. Segunda a tradição, esta família ficou com o apelido de Lago por viver no Solar da Quinta do Lago, numa torre perto de um lago. Essa torre existiu no lugar do Paço.

Lago possui casas muito antigas. Algumas desde o século XVIII. Porém, a maior parte dessas habitações não resistiu ao tempo, foram-se degradando pouco a pouco até desaparecerem.

A igreja paroquial foi restaurada em 1985 depois de sofrer um grande incêndio. A freguesia possui ainda três capelas. A mais importante é a do Senhor da Saúde que foi construída em 1589 e nela se guarda a imagem de Cristo Crucificado – O Senhor da Saúde. A festa em sua honra celebra-se no terceiro domingo de julho.

As outras capelas são a de Santa Marta que foi restaurada recentemente, celebrando-se a sua festa no final de julho da cada ano e a de Santa Ana que serviu de igreja paroquial até 1813. Atualmente encontra-se em ruinas.

Escavações feitas no início da década de oitenta permitiram descobrir fragmentos de cerâmica e telha, o que leva a acreditar que existiu, nesta localidade a atividade de moldagem do barro. Também não há dúvida, de que o fabrico da telha teria sido uma indústria muito importante. Por isso existem nesta freguesia os lugares da Telheira, do Barral e do Telhado.

Como Lago se situa numa zona rural a atividade económica mais importante ao longo de muitos anos foi a agricultura, no entanto atualmente, também existe alguma indústria e algum comércio.

Como é tradição, durante o mês de Agosto, muitos romeiros poveiros fazem peregrinação ao S. Bento, a pé. Seguem o caminho passando por Abadia, onde param para prestar culto à Senhora da Abadia.

O caminho até Bouro é irregular, mas sem declives muito acentuados. Contudo, de Bouro a Abadia o percurso faz-se por uma calçada romana de grande valor patrimonial, com uma subida muito íngreme.

Conta-se que, num certo dia de muito calor, ia um grupo de romeiros, já muito cansado e com muita sede seguindo o seu caminho, com grande espírito de oração. Depois de terem andado alguns quilómetros sempre a subir desde o centro de Bouro, encontraram uma fonte de águas límpidas, cristalinas, puras e muito frescas. Agradeceram à Senhora de Abadia esta divina graça num momento de desalento pelo caminho tão árduo. Um deles, dominado pelo cansaço e pelo calor, aproximou-se para saciar a sua sede. Os companheiros, cautelosos advertiram-no para os perigos de beber a água tão fria quando estavam muito transpirados. Contudo, o peregrino, tal era o seu desespero, não acolheu os conselhos ponderados dos companheiros e deliciou-se com a maravilhosa água. Diz a lenda que, no momento seguinte, começou a sentir-se mal…. e “arrebentou”. Por causa deste trágico acontecimento, foi construída uma fonte em pedra trabalhada e o local passou a chamar-se “Fonte do Arrebentaço”.

A fonte ainda hoje continua a dar de beber a quem percorre este caminho. Mas, porque a história passou de boca em boca, todos os peregrinos sabem que sendo o Arrebentaço a subida mais difícil do caminho de S. Bento e apesar de ter uma fonte de águas frescas, puras e cristalinas, não devem ceder à tentação de beber sofregamente quando estão transpirados pela dureza do caminho. Porque diz a lenda que, quem beber desta água “arrebenta”!!!

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Conta-se que, em tempos remotos, vivia num palácio acastelado um rico e poderoso muçulmano. Este nobre mouro tinha duas filhas gémeas tão iguais como duas gotas de água. Uma chamava-se Zafir e outra Soleima.

O pai das belas moças andava triste pois nem ele era capaz de as distinguir. O receio de contar algo confidencial a Zafir quando o desejava fazer a Soleima, ou vice-versa, deixava-o atormentado. Tinha de tomar uma atitude que o levasse a saber quem era uma e qual era a outra.

Como a noite foi sempre boa conselheira, deitou-se a pensar na solução adequada. Quando acordou, na manhã seguinte, tinha-a encontrado: oferecer a cada uma um colar em ouro com a diferença de que um tinha um pingente de safira (azul) e o outro de rubi (vermelho). As duas irmãs juraram nunca mais tirarem os colares.

O tempo foi passando e elas tornaram-se duas jovens de grande beleza, como sempre eram as morenas moças muçulmanas.

Um dia, um cavaleiro cristão de nome Ramiro passou junto ao palácio. Ficou perplexo ao ver, na varanda, tanta beleza junta!… O amor tinha-o atingido em pleno no coração! Ramiro ficou logo apaixonado. Mas de qual delas? Não deixou de lançar um galanteio que as deixou embaraçadas e confusas. Zafir perguntou:

Quem sois vós, nobre cavaleiro?

E Soleima acrescentou:

Vindes de longe, com certeza…

Ramiro aproximou-se um pouco mais da varanda e confessou:

Sim, venho de longe e, como vedes, sou um cavaleiro cristão.

Um cavaleiro cristão? Que Alá nos proteja! E sem mais demora, desapareceram no interior do palácio.

Ramiro, nada receoso com a situação, gritou com a coragem da sua juventude:

Atendei-me! É um nobre cavaleiro que vos pede!

Este brado, como se pode calcular, foi ouvido pelo pai das jovens, que logo apareceu à varanda. Ramiro, vendo-o, falou-lhe assim:

Sois um nobre mouro, mas para mim não é obstáculo. Quero pedir-vos em casamento uma das vossas filhas.

O senhor do solar soltou uma gargalhada de ironia e replicou:

Quereis casar com uma das minhas filhas? Mas qual delas? De qualquer forma nunca sereis meu genro, pois sois cristão.

Eu voltarei, eu voltarei, respondeu Ramiro dando meia volta ao cavalo… E voltou!
Voltou à frente de um pequeno exército e cercou o palácio.

Como o nobre mouro não cedia, Ramiro tomou de assalto o solar. O resultado foi o mais inesperado e infeliz! Os cavaleiros cristãos levaram tudo à “ponta da espada”. O pai das belas mouras sucumbiu no meio do combate. As irmãs gémeas, essas, desapareceram por um túnel secreto e ninguém mais as viu.

Quando Ramiro reentrou no palácio apenas encontrou o nobre mouro sem vida. As filhas tinham-se “eclipsado”!

Sentindo-se culpado pela tragédia, Ramiro, como penitência, rogou a Deus que o castigasse. E conta a lenda que pelos sombrios corredores do palácio ficou o eco marcado para sempre do lamento de Ramiro:

Qual delas? Qual delas?

Lenda ou talvez não, diz-se que de Qual Delas, por maneira errada de dizer ou escrever, o povo daquele lugar passou a chamar-lhe Terra de Caldelas e posteriormente Caldelas.

Há muitos anos atrás, nos anos cinquenta, havia na nossa freguesia, no lugar do Bico, uma serração onde trabalhavam muitas pessoas. Por isso possuía uma buzina para os trabalhadores, entrarem e saírem, que se ouvia a muitos quilómetros de distância, incluindo o Monte Castro, localidade situada na fronteira entre as freguesias de Lago e Barreiros.

Nessa época, os meninos da escola, tinham outras tarefas. Andavam pelas bouças, subiam aos pinheiros para apanhar pinhas, que mais tarde eram enterradas em grandes buracos, feitos na terra, onde seriam queimadas. Depois era retirado o carvão para ser vendido nas forjas dos ferreiros. Quando acabavam o seu trabalho sentavam-se em grupos e contavam longas histórias e lendas que ouviam aos seus pais e avôs.

Num desses belos dias, já próximo do meio- dia, enquanto descansavam das suas tarefas habituais, iam conversando. Às doze horas a buzina da fábrica tocou. Um dos rapazes olhou para o cume do monte e grita “Olhem, olhem!” Todos ficaram, espantados com o que estavam a observar ao longe. No cimo do Monte Castro tinha surgido uma enorme bola branca de onde saíam pessoas, animais domésticos e mais coisas que não conseguiram identificar.

Os rapazes ficaram muito assustados! Quando ouviram o apito das treze horas, na serração, todos aqueles seres regressaram para dentro da misteriosa bola branca, que rapidamente se escondeu no interior do monte.

As crianças receosas, mas muito curiosas, subiram ao cume do monte para verificarem se havia vestígios deixados pelo estranho acontecimento. Quando lá chegaram, apenas encontraram dejetos de alguns animais!

Intrigados regressaram às suas casas para contarem aos adultos, o que tinham visto, mas quase ninguém acreditou na sua extraordinária história.

No dia seguinte, na escola de Lago, formou-se um tão grande alvoroço, que foi necessário organizar uma visita com todos os alunos, ao famoso Monte Castro, para se confirmar a veracidade dos acontecimentos.

Enquanto esperavam pelo apito da serração, contavam histórias magníficas, relacionadas com mouros.

Ao meio dia, tal como no dia anterior, tudo voltou a acontecer exatamente na mesma! Mas de tão assustados ninguém se mexeu do sítio.

Depois de tudo isto, muita gente lá foi para confirmar os relatos mas dizem que nunca mais aconteceu.

Duvida-se da veracidade dos acontecimentos. Pode ser que os meninos tenham tido um sonho… uma visão… a história dos mouros estivesse mal contada…Mas que foi maravilhoso para quem viveu esta aventura, isso foi! Como nos contou uma das personagens que nela participou.

Há muito tempo atrás, na freguesia de Santa Maria de Bouro, em Amares, havia uma torre de menagem.

O dono dessa torre, a quem toda a gente chamava “senhor de Bouro”, organizou um torneio de cavalaria. Seria a sua linda filha Almerinda que entregaria o troféu ao vencedor.

O pai esperava que o vencedor fosse D. Álvaro de Miranda, para poder casar a sua filha com ele. Mas Almerinda não gostava dele, mesmo não o conhecendo, uma vez que toda a gente dizia que esse senhor era antipático e tirano. Esta jovem rapariga sonhava casar com um homem bonito e também ele jovem.

O vencedor do torneio foi um fidalgo da Catalunha, que era Alcaide de Maldá. Almerinda logo se apaixonou por este encantador rapaz. Durante os festejos, os dois jovens namoraram às escondidas, mas foram descobertos. O pai da Almerinda disse-lhe que se ela continuasse a ver D. Afonso de Maldá a fecharia na torre.

Almerinda e Afonso fugiram para a Catalunha. O “senhor de Bouro” e D. Álvaro de Miranda foram atrás deles. D. Afonso e D. Álvaro lutaram em duelo pelo amor de Almerinda. O Alcaide matou o seu rival e feriu o pai da sua amada. Mesmo ferido, conseguiu trazer a sua filha para Bouro e fechou-a na torre.

Almerinda, passado algum tempo, morreu presa na torre. Por isso, aquele sítio tem o nome de Lugar da Torre, até aos dias de hoje.

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